
"... tive vontade de sentar na calçada
da rua augusta e chorar, mas preferi
entrar numa livraria, comprar um caderno
lindo e anotar sonhos."
Caio Fernando Abreu
o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde nossos olhares se encontram é noite: as pessoas são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestade de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."
Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio de uma praça, então meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando, olhando e pensando: Meu Deus, ah meu Deus como você me dói vezenquando. 


'Deixa pra lá o que não interessa,
